O vestibular está aí e entre as novidades oferecidas no leque de opções de carreiras surge a Nanotecnologia, a ser oferecida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas, afinal, o que vem a ser Nanotecnologia? se perguntam os jovens ao planejar as carreiras que pretendem seguir.
O termo pode parecer novo, porém, mesmo sem perceber a Nanotecnologia faz parte do nosso dia a dia. Uma tecnologia nova e inovadora. Assim podemos definir a nanotecnologia. Apesar de dita 'nova', a ciência já faz parte de nossas vidas há muito tempo, mas pouco sabemos sobre ela.
Presente em componentes eletrônicos, desde computadores até aparelhos da alta medicina, a nanotecnologia também pode ser encontrada nas indústrias cosmética e farmacêutica. E cada vez se ouve mais falar nela. Mas afinal, o que é a Nanotecnologia e que beneficios ela traz à sociedade?
O termo 'nanotecnologia' foi criado e definido pela Universidade Científica de Tóquio, em 1974. Mas foi somente no ano de 2000 que a ciência começou a ser desenvolvida em laboratório e, com isso, as pesquisas acerca desta tecnologia aumentaram significativamente e hoje a nanotecnologia é o centro das atenções em várias áreas da Ciência em geral.
Nanotecnologia vem de nanômetro, uma medida como outra qualquer, não fosse pelo seu tamanho. Um nanômetro equivale a um bilionésimo de metro. Para termos uma idéia melhor, um nanômetro está para uma bola de futebol, assim como uma moeda de um centavo está para a Lua.
A complexidade da ciência está exatamente aí, nas proporções. Tomando por base esta comparação fica claro que para se trabalhar com a Nanotecnologia é necessário utilizar máquinas muito precisas, já que se trata de componentes tão pequenos e invisíveis aos nossos olhos.
O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) é uma das instituições do país que trabalha com a nanotecnologia. "Por sermos uma instituição de metrologia, pesquisamos na direção de desenvolver materiais de referência, processos e padrões para controle de produtos que utilizam a nanotecnologia. Nós não desenvolvemos produtos mas damos apoio às empresas que desenvolvem", afirma o coordenador geral da divisão de Metrologia de Materiais do Inmetro, Carlos Alberto Achete.
Em pleno desenvolvimento, a ciência deve evoluir em pouco tempo
A ciência promete trazer benefícios ao país. Acreditando nos avanços da Nanotecnologia, foi lançado em agosto de 2005, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo Ministro da Ciência e tecnologia, Sérgio Rezende, o Programa Nacional de Nanotecnologia (PNN).
Composto por um conjunto de ações apoiadas com recursos orçamentários, tem como objetivo atender às demandas estratégicas identificadas pela comunidade envolvida como o desenvolvimento da nanociência e nanotecnologia.
Segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, em cinco anos o Brasil investiu R$140 milhões em estudos sobre a promissora ciência. Número estes baixos se comparados com os investimentos de outros países como os Estados Unidos, que, em apenas um ano, desembolsaram cerca de R$1 bilhão em Nanotecnologia. De acordo com estudiosos, o investimento é bom para o país, porém, maiores avanços requerem muito mais.
De olho no desenvolvimento da ciência, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) passa a oferecer a partir de 2010 a graduação em Nanotecnologia, o primeiro no Brasil. Entre os cursos novos que a universidade irá abrir no ano que vem, o de Nanotecnologia é um dos mais promissores.
O professor Rodrigo Capaz, que responde pela graduação, alerta para a importância da formação nesta área. "No mundo todo a Nanotecnologia está crescendo. Para o Brasil é importante participar deste desenvolvimento. Temos muitas empresas trabalhando em Nanotecnologia, mas qual é a importância do profissional formado em nanotecnologia? Qual o diferencial que ele tem? A idéia da Nanotecnologia é que ela é uma área muito interdisciplinar do conhecimento. Ela não é só Física, nem só Quimíca e nem só Engenharia e toda a parte Biológica. É importante ter um profissional que tenha conhecimento a nível de graduação que seja forte nessas áreas, nessas ciências básicas, nessas disciplinas que compoem a nanotecnologia".
Para o professor da Universidade de São Paulo, Sergio Morelhão, do Departamento de Física Aplicada, facilitar o acesso da sociedade ao conhecimento da nanotecnologia é uma tarefa a qual nos dispomos. "Acredito que muitos têm curiosidade pelo assunto. Certamente o contato dos jovens com a ciência permitirá que muitos encontrem sua vocação", opina.
Aplicação da ciência no cotidiano das pessoas
Revolucionária mas também presente em aparelhos mais simples e mais comumente utilizados. Peças de carros, computadores, video games e DVDs são exemplos de aparelhos que utilizam a Nanotecnologia. Alguns exemplos, porém, são curiosos. Na linha têxtil, há calças que servem como sessões de depilação. A invenção seria uma calça justa, usada por baixo de roupas convencionais, que libera aos poucos uma
substância que atinge os pêlos e os elimina. Ou ainda, camisas esportivas cujos tecidos são nanoestraturados e têm ação antifungicida, antibactericida ou bloqueiam raios ultravioletas.
Na indústria automotiva, dois grandes fabricantes já utilizam nanopartículas na pintura dos veículos, o que os torna menos vulneráveis a riscos, manchas e sujeiras. A indústria farmacêutica é outra beneficiada pela Nanotecnologia.
Ainda em teste, uma empresa criou uma fita plástica adesiva com nanocompostos capazes de detectar o nível de glicose no sangue, substituindo, assim, as agulhas. "Há também aplicações muito interessantes na área biomédica. Existem empresas que trabalham no desenvolvimento de nanopartículas para a detecção de tumores. São nanopartículas luminescentes que aderem ao tumor. Com isso é possível identificar e localizar tumores em doentes com uma presição muito maior", explica o professor Rodrigo Capaz da UFRJ.
A ciência é útil também para a indústria cosmética. Grandes empresas têm apostado cada vez mais na nanotecnologia. Segundo Capaz, misturando os materiais utilizados com nanopartículas faz aumentar a a propriedade dos materiais e sua resistência.
No Brasil, uma das áreas que mais utiliza a Nanotecnologia é a indústria de cosméticos. Há pouco, uma empresa da área de cosméticos lançou uma linha anti-sinais. De acordo com a explicação da empresa, o creme facial utiliza a Nanotecnologia para oferecer uma liberação direcionada dos ativos existentes.
Os produtos nem sempre são mais caros e, quase nunca são identificados por receberem a nova tecnologia. "Muitas vezes, as mulheres usam cosméticos, como shampoos e condicionadores, que possuem nanotecnologia e não sabem disso. Muitos produtos que utilizam essa tecnologia já estão presentes no mercado e, quase sempre são tão acessíveis quanto os produtos tradicionais. A nanotecnologia está se expandindo, cada vez mais, para novas áreas", revela Carlos Achete.
Futuro promissor para a Nanotecnologia
"Estima-se que até 2015 os bens e serviços de base nanotecnológica deverão ultrapassar U$1 trilhão anuais no mundo todo e em quase todos os setores produtivos conhecidos anualmente como a computação, as telecomunicações, o transporte, as atividades agropecuárias, a produção de novos fármacos, o desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico e de tratamento de saúde, a produção e o armazenamento de energia, a preservação ambiental, bem como a produção de novos materiais para as mais diversas aplicações como na construção civil, vestuário, embalagens, tintas e cosméticos, entre outros", afirma Rodrigo Capaz.
As expectativas para o crescimento da Nanotecnologia são grandes. Especialistas acreditam que a ciência tem um futuro promissor pela frente, mas alertam para o fato de que, mesmo havendo muitas aplicações na área, o campo é ainda muito inexplorado e que as possibilidades são bem maiores do que as utilizações feitas hoje em dia.
Para o Brasil, embora sejam poucos os recursos, a nanotecnologia é estratégica. "Devemos reconhecer sua importância pelo volume de recursos que se prevê que a nanotecnologia irá movimentar nos próximos anos no mundo todo nos diversos setores produtivos. É por isso que já existe no governo uma consciência que a
nanotecnolgia é uma das áreas estratégicas do país. Quando foi lançado em 2007 o plano de ação 2007/ 2010 em Ciência, Tecnologia e Inovação com desenvolvimento nacional que integra esse conjunto de ações do PAC. Esse plano específico para a área de nanotecnologia consolidou a área como uma das áreas estratégicas para o país. Desde 2001, com a criação das chamadas 'Redes Nacionais de Nanotecnologia', o Governo já vem atuando no sentido de fomentar, de incentivar as pesquisas da ciência pelo país. Existe claramente esse interesse", esclareceu o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Para o coordenador geral da divisão de Metrologia de Materiais do Inmetro, Carlos Alberto Achete, a Nanotecnologia está ainda nascendo, embora já seja discutida a cerca de 10 anos. "Não há dúvidas de que, em um futuro próximo, ela irá atingir praticamente a todas as áreas da engenharia, da física, da medicina, da indútria cosmética, da engenharia metalúrgica, da engenharia de materiais e mecânica. Não
sabemos até onde irá a nanotecnologia mas, certamente, ela veio para ficar e para revolucionar".
Fonte: Caderno de Educação da Folha dirigida
